Thursday, October 08, 2015

um perigo chamado Uber

fazia tempo que eu não bebia leite. estava com sede. alcancei um pacote na geladeira e tomei um copo. havia-me esquecido de como nosso leite é ruim. quantos não foram os escândalos, nos últimos anos, de leite adulterado? meu celular tocou. atendi a ligação, que imediatamente caiu. o meu celular está fora da área de cobertura, nenhum sinal, nada. não deveria, estou na cozinha, no mesmo lugar em que já telefonei tantas vezes antes.

penso no meu carro, que custa o triplo dos carros de tantos outros países e tem a metade da qualidade. lembro que tenho um compromisso. desço para a rua e pego um táxi. dou azar; é um daqueles em que tudo está errado. penso no serviço Uber, que, aos poucos, está sendo proibido em todo Brasil. tivemos um serviço de qualidade durante alguns meses e agora teremos que abrir mão da qualidade, para voltar aos velhos problemas de sempre.

e, de repente, dou-me conta de que o problema não é o Uber. nunca foi. a questão central é a qualidade. as instituições brasileiras repudiam a qualidade. se o Uber fosse um serviço made in China, com todos os problemas possíveis e imagináveis, seria autorizado. afinal, por um acaso o governo se importa com a concorrência desleal que o mercado brasileiro sofre quando é inundado com falsificações? em toda esquina vendem-se produtos chineses. garanto que tiram mais empregos que supostamente o Uber tiraria dos taxistas.

as filas nas agências bancárias são intermináveis, nos correios nem se fala. nos ônibus é aquele desespero que todos nós conhecemos bem. as companhias áreas são um caos, e os aeroportos lembram rodoviárias do interior. as estradas são fábricas de acidentes. os hospitais são desumanos. o futebol virou chacota mundial. a segurança pública é um projeto sem projeto, resume-se a estatísticas de criminalidade.

então, imaginem o problema que é um serviço como o Uber para o Brasil. de repente, existe algo que funciona, algo impecável, moderno e respeitoso. um serviço assim faz o cidadão acostumar-se à qualidade, faz o sujeito pensar, torna-o exigente. comparações da ordem – se o Uber funciona, por que as operadoras de celular não funcionam? – serão inevitáveis. é uma bomba relógio esse Uber. hoje o cidadão quer um táxi perfeito, amanhã ele quer um hospital perfeito, finalmente ele exigirá políticos perfeitos... não, isso não, tudo menos isso, que perigo! melhor cortar o mal pela raiz. melhor proibir o Uber de uma vez por todas.

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