Thursday, July 25, 2013

o papa no Rio de Janeiro

nada tenho contra o papa ou qualquer outro líder religioso. o que me enlouquece é essa sequência de eventos que prejudicam o ritmo de trabalho no Rio de Janeiro. para-se pro Ano novo, em seguida, pro Carnaval, depois, pra Semana Santa e, quando finalmente o ano deveria começar, temos Copa das Confederações e Feriados do Papa.

existe essa máxima de que os eventos são benéficos para a cidade, mas mesmo eu, que dependo diretamente do turista no meu negócio, tenho prejuízo com eventos. contradição? não. o turista de evento é conhecido por consumir pouco. o fã de futebol tem os centavos contados para comprar entradas pros jogos e cerveja. o folião de rua vem para desfilar nos blocos e, também, consumir cerveja. o peregrino nem cerveja consome. existem estudos mostrando que a economia gerada em torno de eventos fica, na regra, bem abaixo do esperado. telefonei para uma loja dum dos maiores pontos de turismo do rio e perguntei se estavam vendendo bem, a reposta: muitos turistas, eles entram nas lojas, olham tudo e levam, no máximo, um chaveirinho de recordação. o peregrino vem para visitar um evento e não a cidade, assim, existe uma relação menor de consumo. o grande interesse é o evento, caso o mesmo evento fosse do outro lado do mundo, ele iria pro outro lado do mundo. ou seja, visitar a cidade, no caso, o Rio de Janeiro, é somente consequência e não prioridade.

os turistas de eventos lotam os hotéis e acabam, assim, afastando o turista comum, aquele que vem com a família, para visitar a cidade. o turista comum compra nos shoppings, consome no ponto de turismo, vai nos bons restaurantes e assim por diante. o turista comum, do dia-a-dia, está de férias, e quer usufruir ao máximo do descanso na cidade que ele escolheu a dedo, entre tantas outras possíveis. por isso, ele se dá o luxo de gastar um pouco a mais, assim como nós, quando vamos ao exterior fazer turismo.

sediar um evento de grande porte, então, no período de férias escolares, momento de maior fluxo de turismo comum, não faz qualquer sentido para o Rio de Janeiro. se eu, que vivo diretamente do turismo, não tenho vantagem econômica em eventos, imagine uma proprietária de lojas de tecido, o florista, o corretor de imóveis, o oculista e tantos outros.


é claro que a questão não é sobre mim, o oculista ou o florista. é sobre o conjunto de todos nós, nós cariocas, que somos o Rio de Janeiro. a pergunta que é preciso se fazer daqui pra frente: vale a pena, para nós, sediar esses megaeventos? não seria melhor investir no turismo comum, explorando o enorme potencial turístico que o Rio de Janeiro tem? acredito que eventos de grande porte sejam muito mais atraentes para cidades que, na norma, não tem um grande fluxo de turismo. não é o caso do Rio.

Monday, July 22, 2013

a questão da alto dos aluguéis no Rio de Janeiro

de uns cinco anos pra cá, os preços dos imóveis na cidade do Rio de Janeiro dispararam, e não houve nem há iniciativa política para reverter esse cenário. é como se a alta dos imóveis fosse um realidade sem solução. fala-se muito nos fatores que levaram a elevação dos preços, mas não há qualquer movimento, por parte de nossos governantes e legisladores, para combater essa distorção que afeta, de forma negativa, a economia da cidade.

o custo dos imóveis tem impacto em inúmeros serviços, por exemplo, os prestados por escolas, restaurantes, consultórios médicos e oficinas, pois, com o aumento de aluguéis, os estabelecimentos são obrigados a repassar o alto custo fixo aos serviços ofertados.

acompanho o mercado de aluguéis no Rio de Janeiro há mais de 10 anos, pois vivo em imóvel alugado. o que mais chama a atenção é a diminuição de imóveis disponíveis para alugar. uma rápida busca nos classificados ZAP mostra que, para cada seis apartamentos a venda no Rio de Janeiro, existe somente um para ser alugado, ou seja, uma proporção venda/aluguel de 6/1, enquanto, num mercado equilibrado, essa proporção, na regra, gira em torno de 2/1. antigamente, quando eu queria alugar um imóvel, a decisão era minha. hoje, a decisão é do proprietário, pois, pra cada imóvel dentro de meu orçamento, existem outras 10 pessoas interessadas. sobra procura e falta demanda de apartamentos para alugar, o que faz o preço disparar.

a razão de existirem muitos apartamentos a venda e poucos para alugar já foi explicada, exaustivamente, por analistas de mercado: 1) os preços altos de venda impossibilitam a compra por grande parte da população, saturando o mercado de aluguéis. 2) com a alta do preço dos imóveis, quem tem um imóvel extra quer realizar o lucro (pôr os milhões no bolso), com receio de que a valorização seja temporária. 3) mesmo os alugueis estando muito altos, existe um limite do que a renda familiar média permite gastar com aluguel, fazendo com que vender um imóvel e aplicar esse dinheiro seja mais lucrativo do que pôr o imóvel para alugar.

é nesse ponto que se evidencia a ausência de inciativa de nossos governantes. não existe qualquer política para trazer os imóveis parados, no balcão de venda, de volta para o mercado de aluguel, forçando, assim, uma queda dos preços de aluguéis. há dois mecanismos simples que poderiam ser implantados:

- a prefeitura poderia isentar, temporariamente, imóveis alugados de IPTU. essa iniciativa baixaria também o preço de venda dos imóveis, pois seria mais interessante alugar e fugir do IPTU, do que financiar e pagar o IPTU, desestimulando a especulação imobiliária.

- o governo federal poderia diminuir, também temporariamente, o IR sobre o aluguel de imóveis (que chega a 27,5% do valor recebido) torando o aluguel mais interessante para os proprietários de imóveis. nesse caso, a diminuição só valeria para quem tivesse, no máximo, dois imóveis para alugar, evitando assim mais especulação imobiliária.

citei apenas duas ideias que me ocorreram, mas certamente existem outros mecanismos, inclusive, para diminuir o valor de compra e venda. a disparada dos preços de imóveis é vista com total inércia por nossos governantes, como se fosse uma variável impossível de ser influenciada, mas não é.

Thursday, July 18, 2013

construindo um Brasil novo

após ler alguns relatos de conhecidos e amigos, e ver a cobertura na mídia dos protestos de ontem, chego a conclusão de que a culpa de tudo é dos “baderneiros”. o grande mal que assola o Brasil está aí, personificado, nessa meia-dúzia de gatos pingados que quebraram duas agências bancárias, saquearam duas lojas e incendiaram algumas lixeiras no Leblon. vejo gente se queixando que os baderneiros impedem o direito de ir e vir da população e que, ao invés de fazer arruaça, deveriam enviar suas reivindicação aos políticos. outros afirmam ser um absurdo que os baderneiros atrapalhem o simpático jantar no restaurante do Leblon, e exigem que a polícia seja rigorosa e impiedosa com essa laia de revoltos.

há algo no ar como: queremos voltar à normalidade. chega de baderna! queremos as ruas sem vândalos, livres para os carros! queremos o direito de ir a um restaurante na esquina de casa.

a questão, porém, é: o que é voltar à normalidade? retomar o Brasil de dois meses atrás que deixa bilhões de reais evaporarem no ralo da corrupção? retomar o Brasil do metrô fraudulento, do hospital em que morrem 20 bebês em dois dias, das escolas com goteiras, dos professores sem salários decentes, dos médicos de Cuba, da cantora inaugurando obra pública com cachê milionário, dos deputados condenados presidindo a comissão de constituição e justiça, dos homofóbicos presidindo a comissão de direitos humanos, dos vereadores passando o dia concedendo benefícios a parentes, dos presídios superlotados, da polícia com um dos menores índices de resolução de crimes do mundo, das estradas esburacadas, dos aeroportos caindo aos pedaços? é esse Brasil que vocês querem de volta? vocês juram que o problema está no grupo de manifestantes inconsequentes que ontem quebrou algumas agências bancárias?

é cômodo viver entorpecido num sistema, seja lá qual for o sistema. o confronto sempre incomoda, pois o novo traz incertezas e exige posicionamentos. mudar de rotina incomoda. mas é essa a grande escolha que todos nós precisamos fazer agora: queremos viver no Brasil de ontem, ou construir o Brasil do amanhã. caso a opção seja pelo novo, é preciso entender que não existe um caminho previsível, onde tudo ocorre na mais perfeita harmonia. é claro que o desejo de todos é ver manifestações pacificas, sem quebra-quebra, nas quais policiais recebem flores de manifestantes vestidos de branco. o novo, porém, não se constrói com essa previsibilidade. o novo traz fatores inimagináveis e exige posicionamentos que esgotam a nossa zona de conforto. o novo é jovem, incerto, ousado, inexperiente, e, por isso mesmo, muitas vezes se excede. cabe à sociedade transformar e moldar esse novo, assim como se educa um filho por longos anos. o Brasil novo não cairá em nosso colo na perfeição utópica que reúne nosso sonhos e desejos. precisamos aceitar, perdoar e corrigir os excessos que são inerentes à natureza do novo. afinal, quantas vezes é preciso perdoar uma criança por quebrar um vazo de flores?





Monday, July 15, 2013

apague as luzes

apague as luzes, baixe as persianas, cerre as cortinas, para acender uma vela na mesa de jantar. esqueça-se da cidade, do faz de conta urbano, e prenda a atenção na chama, que dança no vai e vem do seu pulmão. deixe o tempo ser um fluxo constante e indivisível, antagônico a segundos, minutos e horas, que, sabe-se lá quando, impuseram um ritmo à percepção humana. sinta seu lar; a estante com estranhos objetos, o sofá surrado, a mesa de centro com alguns livros que ninguém lembra se algum dia folheou. veja o reflexo da vela no lustre apagado, e tente recordar quando ou por que escolheu-se aquele lustre. repare na tevê desligada para concluir que sim, muitas vezes, ela é querida companheira. todo esse conjunto é você. a paz de sua sala, iluminada por uma simples vela, é a sua paz. lá fora, um carro buzina, já não incomoda.

Monday, July 01, 2013

primavera brasileira

aos poucos, os gritos viram burburinhos, e a frente fria espanta os últimos dos exaltados das avenidas, as vozes do verão se calam, e um longo inverno incógnito se anuncia às almas exauridas. foram semanas intensas que vivemos. emoções caminharam do descrédito à euforia e, agora, acomodam-se na incerteza que reside na esperança receosa. quais serão os frutos desta primavera fora de estação? na minha rua, alguns meninos chutam bola, e me dou conta de como tudo está entrelaçado. está lá, o nosso futuro, na descalça algazarra, mostrando que, pelo menos na primavera da vida, o gol vem antes da responsabilidade. alegro-me por eles.