Thursday, July 18, 2013

construindo um Brasil novo

após ler alguns relatos de conhecidos e amigos, e ver a cobertura na mídia dos protestos de ontem, chego a conclusão de que a culpa de tudo é dos “baderneiros”. o grande mal que assola o Brasil está aí, personificado, nessa meia-dúzia de gatos pingados que quebraram duas agências bancárias, saquearam duas lojas e incendiaram algumas lixeiras no Leblon. vejo gente se queixando que os baderneiros impedem o direito de ir e vir da população e que, ao invés de fazer arruaça, deveriam enviar suas reivindicação aos políticos. outros afirmam ser um absurdo que os baderneiros atrapalhem o simpático jantar no restaurante do Leblon, e exigem que a polícia seja rigorosa e impiedosa com essa laia de revoltos.

há algo no ar como: queremos voltar à normalidade. chega de baderna! queremos as ruas sem vândalos, livres para os carros! queremos o direito de ir a um restaurante na esquina de casa.

a questão, porém, é: o que é voltar à normalidade? retomar o Brasil de dois meses atrás que deixa bilhões de reais evaporarem no ralo da corrupção? retomar o Brasil do metrô fraudulento, do hospital em que morrem 20 bebês em dois dias, das escolas com goteiras, dos professores sem salários decentes, dos médicos de Cuba, da cantora inaugurando obra pública com cachê milionário, dos deputados condenados presidindo a comissão de constituição e justiça, dos homofóbicos presidindo a comissão de direitos humanos, dos vereadores passando o dia concedendo benefícios a parentes, dos presídios superlotados, da polícia com um dos menores índices de resolução de crimes do mundo, das estradas esburacadas, dos aeroportos caindo aos pedaços? é esse Brasil que vocês querem de volta? vocês juram que o problema está no grupo de manifestantes inconsequentes que ontem quebrou algumas agências bancárias?

é cômodo viver entorpecido num sistema, seja lá qual for o sistema. o confronto sempre incomoda, pois o novo traz incertezas e exige posicionamentos. mudar de rotina incomoda. mas é essa a grande escolha que todos nós precisamos fazer agora: queremos viver no Brasil de ontem, ou construir o Brasil do amanhã. caso a opção seja pelo novo, é preciso entender que não existe um caminho previsível, onde tudo ocorre na mais perfeita harmonia. é claro que o desejo de todos é ver manifestações pacificas, sem quebra-quebra, nas quais policiais recebem flores de manifestantes vestidos de branco. o novo, porém, não se constrói com essa previsibilidade. o novo traz fatores inimagináveis e exige posicionamentos que esgotam a nossa zona de conforto. o novo é jovem, incerto, ousado, inexperiente, e, por isso mesmo, muitas vezes se excede. cabe à sociedade transformar e moldar esse novo, assim como se educa um filho por longos anos. o Brasil novo não cairá em nosso colo na perfeição utópica que reúne nosso sonhos e desejos. precisamos aceitar, perdoar e corrigir os excessos que são inerentes à natureza do novo. afinal, quantas vezes é preciso perdoar uma criança por quebrar um vazo de flores?





No comments: