Monday, November 26, 2018

carrossel


Aconteceu numa daquelas feirinhas do interior do Brasil, com barraquinha de beijo, de pipoca, maçã do amor, tiro ao alvo, chão de terra batida, adultos falastrões, crianças espoletas, música e carrossel. Luzes coloridas preenchiam o azulado chumbo do anoitecer. Um jovem casal se encontrou em frente ao carrinho de algodão-doce. Cumprimentaram-se com dois beijos tímidos no rosto e caminharam lado a lado pela feirinha. Era o primeiro encontro e ferviam por dentro de insegurança. Lá pelas tantas ela disse que nunca andara de carrossel. Juntaram as moedas que traziam nos bolsos e compraram duas entradas. Sentaram-se numa pequena carruagem em forma de abóbora, cercados por crianças em cavalinhos, renas e unicórnios. Assim que o carrossel iniciou os giros, as luzes se tornaram rabiscos coloridos, a música diminuiu o ritmo, e o casal viajou a um universo à parte. As pontas de seus dedos se tocaram, beijaram-se. Quando, dois minutos adiante, o carrossel parou, as crianças nos cavalinhos se queixaram, decepcionadas, de que o passeio fora rápido demais. O jovem casal se afastou, agora de mãos dadas, sem norte definido. Para eles o carrossel continuava a girar na eternidade do primeiro amor.