Thursday, December 12, 2013

projeto Porto Maravilha e o caos provocado pelas chuvas

grande parte dos investimentos feitos no Rio de Janeiro estão indo para o projeto Porto Maravilha. a pergunta inevitável, após o caos das chuvas: o Porto Maravilha é prioridade? discordo das comparações com Buenos Aires, pois são duas realidades distintas. Buenos Aires não tinha áreas de lazer em contato com a água, por isso revitalizaram o porto. uma vez que a capital da Argentina beira o famoso Rio da Prata, era fundamental, para o turismo da cidade, que a região portuária, em contato com o Rio da Prata, fosse revitalizada. No Rio de Janeiro, o grande atrativo turístico e de lazer são Ipanema, Copacabana e todas as outras praias (além de museus, Corcovado etc). Muito mais importante, para o turista e o carioca, do que revitalizar o porto, seria despoluir, de uma vez por todas, as praias. também seria infinitamente mais barato. e o com o restante da verba, seria possível resolver questões que se alastram por décadas, como o alagamento da Av. Brasil em dias de forte chuva e o estado precário do  Museu da Quinta da Boa Vista. não sou contra a revitalização do porto; apenas considero que há centenas de outras prioridades.

Saturday, November 30, 2013

doce vida insana

doce vida: estava sozinho no escritório, os olhos fixos na tela do computador. desvio o olhar e vejo um passarinho amarelo pousado no parapeito da janela, olhando para dentro da sala. parei o que fazia e observei o pássaro que lá ficou por um minuto. eu trabalho naquele mesmo escritório há quatro anos, e nunca antes um pássaro admirou minha sala. quanto mais eu penso sobre esse momento singular, mais tenho a certeza de que não há qualquer lição ou ensinamento no episódio. tratou-se, somente, dum pássaro observando minha sala. o encanto daquele momento está justamente nessa ausência de qualquer propósito, como o sorriso das crianças ou a estrela cadente. são as sutilezas sem objetivos que fazem doçura da vida insana.

Saturday, November 23, 2013

arte low cost

tenho minhas dúvidas a respeito dos tantos projetos (sites, lojas, galerias etc.) de slogan “arte barata”. o chamariz é sempre o mesmo: arte acessível, arte para todos os bolsos. incomoda que o critério principal é o preço baixo das obras, fazendo uma suposta oposição ao mercado capitalista da arte, que estaria promovendo preços exorbitantes. bem, no momento em que o critério de seleção é o preço (mesmo que baixo), cai-se numa tremenda armadilha contraditória: o critério primordial de qualquer mercado é justamente o preço. ou seja, no final das contas, tudo gira em torno do preço, e a venda de arte low cost é igualmente alinhada com o mercado. explora-se apenas um público diverso das grandes galerias. algo como as lojinhas que vendem tudo por 99 centavos.

Monday, October 21, 2013

instituto Royal e os testes em animais

há dois fatos que se misturam na questão do instituto Royal: uma é a invasão do instituto; a outra é o uso de cães e gatos em experimentos. vou me limitar apenas aos experimentos.

poucos séculos atrás, havia escravos no mundo, e dizia-se que, sem escravos, não haveria a possibilidade de se promover o progresso da humanidade. foi preciso muita pressão e ativismo, para derrubar as verdades enraizadas nas sociedades daqueles tempos. hoje, a humanidade quer que se encontre métodos alternativos para experimentos com animais.


é uma posição extremamente confortável dizer que não há outro caminho. não há, porque não há pressão para que haja. se deixássemos, os laboratórios testariam remédios em crianças, aliás, há milhares de relatos de experimentos ilegais com pessoas na África. se hoje ainda não existem caminhas alternativos, os ativistas querem, ao menos, limites. cães e gatos são animais de estimação, que nos são muito próximos. da mesma forma que é proibido comer cães, pessoas querem o fim dos experimentos com cães. querem que se limite os experimentos, enquanto não haja outra alternativa, aos ratos de laboratório; e que, a curto, médio ou longo prazo, também os ratos sejam poupados desses testes cruéis.

Thursday, October 17, 2013

a polêmica em torno de chico buarque

sempre achei exagerado o culto em torno de chico buarque, um exemplo clássico em que o público confunde criação com criador. a verdade é que chico canta bem, chico escreve bem, chico tem olhos verdes e ponto. tudo além é imaginação. por isso, agora, esse ódio exagerado, como se a máscara de chico tivesse caído. é preciso perceber que chico nunca vestiu máscara alguma, sua imensa legião de fãs é que o mascarou de homem perfeito. agora, faz-se um falso demônio do falso santo. o chico pessoa é apenas um sujeito igual a nós, com opiniões controversas e talvez equivocadas, como todos nós as temos. o mesmo vale para caetano e roberto carlos. é preciso parar de dar tanta importância às opiniões dos artistas; o que conta é o que criaram. afinal, um rouxinol também canta como poucas aves, mas nem por isso é formador de opinião no reino animal.

Tuesday, September 03, 2013

velas ao vento, navegante

existe algo maior que o brilho nos olhos dum jovem, aquele luzir arrogante que atropela pessimismo e desesperança, desafiando-nos a ver um futuro renovado, em que sonhos e certezas se fundem num aconchego, num abraço de esperança incontida, revelando que nossas verdades não passam de tolas cicatrizes, traumas de um mundo que parece punir os sonhadores, enquanto, na verdade, apenas pune os que desistem? velas ao vento, navegante.

Sunday, August 18, 2013

sonhadores x céticos

até entendo que há quem não acredite em mudanças. mesmo que ao longo de, sei lá, talvez uns 200 anos, a Europa passou de reinados e impérios autoritários a democracias consolidadas, há pessoas que acham que nada muda, convictas de que se expressar contra o sistema é uma pura perda de tempo. até aí, tudo bem, cada um com suas convicções. agora, o que eu não consigo entender é por que esses céticos tanto se incomodam com quem sonha com um Brasil melhor. parece-me que a simples esperança dos sonhadores ameaça a inerte zona de conforto em que os descrentes se instalaram. o que os incrédulos não percebem é que aqueles que sonham com um país melhor desejam melhorias que beneficiarão todos, inclusive os céticos, e só por isso já merecem ter sua causa legitimada. em comparação, a inércia de um descrido favorece somente o conforto próprio, a manutenção de hábitos automatizados, que, de alguma forma, tornam aceitáveis ser refém de um sistema injusto e doente.

Thursday, July 25, 2013

o papa no Rio de Janeiro

nada tenho contra o papa ou qualquer outro líder religioso. o que me enlouquece é essa sequência de eventos que prejudicam o ritmo de trabalho no Rio de Janeiro. para-se pro Ano novo, em seguida, pro Carnaval, depois, pra Semana Santa e, quando finalmente o ano deveria começar, temos Copa das Confederações e Feriados do Papa.

existe essa máxima de que os eventos são benéficos para a cidade, mas mesmo eu, que dependo diretamente do turista no meu negócio, tenho prejuízo com eventos. contradição? não. o turista de evento é conhecido por consumir pouco. o fã de futebol tem os centavos contados para comprar entradas pros jogos e cerveja. o folião de rua vem para desfilar nos blocos e, também, consumir cerveja. o peregrino nem cerveja consome. existem estudos mostrando que a economia gerada em torno de eventos fica, na regra, bem abaixo do esperado. telefonei para uma loja dum dos maiores pontos de turismo do rio e perguntei se estavam vendendo bem, a reposta: muitos turistas, eles entram nas lojas, olham tudo e levam, no máximo, um chaveirinho de recordação. o peregrino vem para visitar um evento e não a cidade, assim, existe uma relação menor de consumo. o grande interesse é o evento, caso o mesmo evento fosse do outro lado do mundo, ele iria pro outro lado do mundo. ou seja, visitar a cidade, no caso, o Rio de Janeiro, é somente consequência e não prioridade.

os turistas de eventos lotam os hotéis e acabam, assim, afastando o turista comum, aquele que vem com a família, para visitar a cidade. o turista comum compra nos shoppings, consome no ponto de turismo, vai nos bons restaurantes e assim por diante. o turista comum, do dia-a-dia, está de férias, e quer usufruir ao máximo do descanso na cidade que ele escolheu a dedo, entre tantas outras possíveis. por isso, ele se dá o luxo de gastar um pouco a mais, assim como nós, quando vamos ao exterior fazer turismo.

sediar um evento de grande porte, então, no período de férias escolares, momento de maior fluxo de turismo comum, não faz qualquer sentido para o Rio de Janeiro. se eu, que vivo diretamente do turismo, não tenho vantagem econômica em eventos, imagine uma proprietária de lojas de tecido, o florista, o corretor de imóveis, o oculista e tantos outros.


é claro que a questão não é sobre mim, o oculista ou o florista. é sobre o conjunto de todos nós, nós cariocas, que somos o Rio de Janeiro. a pergunta que é preciso se fazer daqui pra frente: vale a pena, para nós, sediar esses megaeventos? não seria melhor investir no turismo comum, explorando o enorme potencial turístico que o Rio de Janeiro tem? acredito que eventos de grande porte sejam muito mais atraentes para cidades que, na norma, não tem um grande fluxo de turismo. não é o caso do Rio.

Monday, July 22, 2013

a questão da alto dos aluguéis no Rio de Janeiro

de uns cinco anos pra cá, os preços dos imóveis na cidade do Rio de Janeiro dispararam, e não houve nem há iniciativa política para reverter esse cenário. é como se a alta dos imóveis fosse um realidade sem solução. fala-se muito nos fatores que levaram a elevação dos preços, mas não há qualquer movimento, por parte de nossos governantes e legisladores, para combater essa distorção que afeta, de forma negativa, a economia da cidade.

o custo dos imóveis tem impacto em inúmeros serviços, por exemplo, os prestados por escolas, restaurantes, consultórios médicos e oficinas, pois, com o aumento de aluguéis, os estabelecimentos são obrigados a repassar o alto custo fixo aos serviços ofertados.

acompanho o mercado de aluguéis no Rio de Janeiro há mais de 10 anos, pois vivo em imóvel alugado. o que mais chama a atenção é a diminuição de imóveis disponíveis para alugar. uma rápida busca nos classificados ZAP mostra que, para cada seis apartamentos a venda no Rio de Janeiro, existe somente um para ser alugado, ou seja, uma proporção venda/aluguel de 6/1, enquanto, num mercado equilibrado, essa proporção, na regra, gira em torno de 2/1. antigamente, quando eu queria alugar um imóvel, a decisão era minha. hoje, a decisão é do proprietário, pois, pra cada imóvel dentro de meu orçamento, existem outras 10 pessoas interessadas. sobra procura e falta demanda de apartamentos para alugar, o que faz o preço disparar.

a razão de existirem muitos apartamentos a venda e poucos para alugar já foi explicada, exaustivamente, por analistas de mercado: 1) os preços altos de venda impossibilitam a compra por grande parte da população, saturando o mercado de aluguéis. 2) com a alta do preço dos imóveis, quem tem um imóvel extra quer realizar o lucro (pôr os milhões no bolso), com receio de que a valorização seja temporária. 3) mesmo os alugueis estando muito altos, existe um limite do que a renda familiar média permite gastar com aluguel, fazendo com que vender um imóvel e aplicar esse dinheiro seja mais lucrativo do que pôr o imóvel para alugar.

é nesse ponto que se evidencia a ausência de inciativa de nossos governantes. não existe qualquer política para trazer os imóveis parados, no balcão de venda, de volta para o mercado de aluguel, forçando, assim, uma queda dos preços de aluguéis. há dois mecanismos simples que poderiam ser implantados:

- a prefeitura poderia isentar, temporariamente, imóveis alugados de IPTU. essa iniciativa baixaria também o preço de venda dos imóveis, pois seria mais interessante alugar e fugir do IPTU, do que financiar e pagar o IPTU, desestimulando a especulação imobiliária.

- o governo federal poderia diminuir, também temporariamente, o IR sobre o aluguel de imóveis (que chega a 27,5% do valor recebido) torando o aluguel mais interessante para os proprietários de imóveis. nesse caso, a diminuição só valeria para quem tivesse, no máximo, dois imóveis para alugar, evitando assim mais especulação imobiliária.

citei apenas duas ideias que me ocorreram, mas certamente existem outros mecanismos, inclusive, para diminuir o valor de compra e venda. a disparada dos preços de imóveis é vista com total inércia por nossos governantes, como se fosse uma variável impossível de ser influenciada, mas não é.

Thursday, July 18, 2013

construindo um Brasil novo

após ler alguns relatos de conhecidos e amigos, e ver a cobertura na mídia dos protestos de ontem, chego a conclusão de que a culpa de tudo é dos “baderneiros”. o grande mal que assola o Brasil está aí, personificado, nessa meia-dúzia de gatos pingados que quebraram duas agências bancárias, saquearam duas lojas e incendiaram algumas lixeiras no Leblon. vejo gente se queixando que os baderneiros impedem o direito de ir e vir da população e que, ao invés de fazer arruaça, deveriam enviar suas reivindicação aos políticos. outros afirmam ser um absurdo que os baderneiros atrapalhem o simpático jantar no restaurante do Leblon, e exigem que a polícia seja rigorosa e impiedosa com essa laia de revoltos.

há algo no ar como: queremos voltar à normalidade. chega de baderna! queremos as ruas sem vândalos, livres para os carros! queremos o direito de ir a um restaurante na esquina de casa.

a questão, porém, é: o que é voltar à normalidade? retomar o Brasil de dois meses atrás que deixa bilhões de reais evaporarem no ralo da corrupção? retomar o Brasil do metrô fraudulento, do hospital em que morrem 20 bebês em dois dias, das escolas com goteiras, dos professores sem salários decentes, dos médicos de Cuba, da cantora inaugurando obra pública com cachê milionário, dos deputados condenados presidindo a comissão de constituição e justiça, dos homofóbicos presidindo a comissão de direitos humanos, dos vereadores passando o dia concedendo benefícios a parentes, dos presídios superlotados, da polícia com um dos menores índices de resolução de crimes do mundo, das estradas esburacadas, dos aeroportos caindo aos pedaços? é esse Brasil que vocês querem de volta? vocês juram que o problema está no grupo de manifestantes inconsequentes que ontem quebrou algumas agências bancárias?

é cômodo viver entorpecido num sistema, seja lá qual for o sistema. o confronto sempre incomoda, pois o novo traz incertezas e exige posicionamentos. mudar de rotina incomoda. mas é essa a grande escolha que todos nós precisamos fazer agora: queremos viver no Brasil de ontem, ou construir o Brasil do amanhã. caso a opção seja pelo novo, é preciso entender que não existe um caminho previsível, onde tudo ocorre na mais perfeita harmonia. é claro que o desejo de todos é ver manifestações pacificas, sem quebra-quebra, nas quais policiais recebem flores de manifestantes vestidos de branco. o novo, porém, não se constrói com essa previsibilidade. o novo traz fatores inimagináveis e exige posicionamentos que esgotam a nossa zona de conforto. o novo é jovem, incerto, ousado, inexperiente, e, por isso mesmo, muitas vezes se excede. cabe à sociedade transformar e moldar esse novo, assim como se educa um filho por longos anos. o Brasil novo não cairá em nosso colo na perfeição utópica que reúne nosso sonhos e desejos. precisamos aceitar, perdoar e corrigir os excessos que são inerentes à natureza do novo. afinal, quantas vezes é preciso perdoar uma criança por quebrar um vazo de flores?





Monday, July 15, 2013

apague as luzes

apague as luzes, baixe as persianas, cerre as cortinas, para acender uma vela na mesa de jantar. esqueça-se da cidade, do faz de conta urbano, e prenda a atenção na chama, que dança no vai e vem do seu pulmão. deixe o tempo ser um fluxo constante e indivisível, antagônico a segundos, minutos e horas, que, sabe-se lá quando, impuseram um ritmo à percepção humana. sinta seu lar; a estante com estranhos objetos, o sofá surrado, a mesa de centro com alguns livros que ninguém lembra se algum dia folheou. veja o reflexo da vela no lustre apagado, e tente recordar quando ou por que escolheu-se aquele lustre. repare na tevê desligada para concluir que sim, muitas vezes, ela é querida companheira. todo esse conjunto é você. a paz de sua sala, iluminada por uma simples vela, é a sua paz. lá fora, um carro buzina, já não incomoda.

Monday, July 01, 2013

primavera brasileira

aos poucos, os gritos viram burburinhos, e a frente fria espanta os últimos dos exaltados das avenidas, as vozes do verão se calam, e um longo inverno incógnito se anuncia às almas exauridas. foram semanas intensas que vivemos. emoções caminharam do descrédito à euforia e, agora, acomodam-se na incerteza que reside na esperança receosa. quais serão os frutos desta primavera fora de estação? na minha rua, alguns meninos chutam bola, e me dou conta de como tudo está entrelaçado. está lá, o nosso futuro, na descalça algazarra, mostrando que, pelo menos na primavera da vida, o gol vem antes da responsabilidade. alegro-me por eles.

Friday, June 21, 2013

o despertar

o momento de despertar é incrível. de repente, tudo de insignificante perde a força. as publicidades coloridas, nas ruas e tevês, agora, nada mais me dizem, parecem estranhas peças de museu, relatos de um tempo ao qual não pertenço. o sorriso do famoso garoto propaganda, na porta da agência bancária, é desprovido de qualquer significado, a mensagem não consegue alcançar meus receptores. nos jornais, notícias da vida das celebridades são espaços vazios que não atraem meus sentidos. o comentário do famoso jornalista da tevê tem o mesmo valor do comentário do porteiro, ambos são somente pessoas opinando, assim sou eu, assim somos nós. minha consciência parece ter dado um pulo milenar, e a sombra do sistema que pairava sobre meus olhos, agora, não passa de purpurina desfazendo-se na brisa de um novo tempo.


amigos, nada mais será como antes. o despertar desses dias não se restringe ao desmandos de nossos políticos. o sistema está desmoronando. o fim de uma era, anunciado no calendário maia, está concretizado. nasce um novo milênio, um novo tempo, um despertar coletivo.

Wednesday, June 12, 2013

falando das manifestações em São Paulo

é evidente que sou contra a depredação do espaço público, de ônibus e de agências bancárias. todos nós somos. se as manifestações continuarem do jeito que estão, haverá feridos e, talvez, até mortos, o que precisa ser evitado a todo custo. tanto a polícia como os manifestantes devem conter os ânimos e buscar minimizar os prejuízos.

dito isso, é fato ser quase impossível conter a revolta de uma multidão. assim, o bom senso deve partir dos governantes e comandantes da polícia. o Governador de São Paulo deve parar de acusar os manifestantes de vândalos, ter humildade e perceber que a população está descontente.

ninguém ali está protestando, realmente, contra o aumento da passagem de ônibus. o aumento das tarifas é somente o estopim da revolta. a população sentiu o custo de vida subir, gradativamente, nos últimos anos, sem que os salários acompanhassem a alta dos preços. anualmente, vereadores, juízes e outros funcionários públicos do alto escalão aumentam seus salários e se concedem novos benefício, enquanto a população recebe aumentos irrisórios.
ao mesmo tempo, há sucessivos escândalos de corrupção, sem que os culpados sejam responsabilizados. alguma hora, é óbvio, a corda da tolerância se estica e arrebenta, resultando no que estamos vendo: pessoas dispostas a enfrentar a força policial por uma diferença de 20 centavos na passagem de ônibus.

o que os governantes, vereadores e altos funcionários públicos podem fazer para conter os ânimos? descer do pedestal. cortar benefícios luxuosos como carrões com motoristas, passagens áreas, auxílio moradia e, principalmente, salários de marajás. não podemos viver num país onde, por exemplo, o vereador ganha 10, 15, 20 vezes a mais do que um professor, um policial ou um bombeiro. tenho um imenso respeito pela classe de vereadores e sei que fazem um trabalho árduo, mas os professores também o fazem. o que é mais importante  para a sociedade? um vereador ou um professor? no mínimo, têm importância igual, assim, devem receber salários iguais.


o Brasil precisa encontrar uma maneira de trazer igualdade para a sociedade. as discrepâncias salarias precisam terminar, principalmente, dentro do aparato público. a qualidade dos serviços públicos carece de eficiência. corruptos precisam ser retirados da carreira pública e punidos. é o único caminho. na história da humanidade, não há exemplo de uma sociedade tolerando, para sempre, os desmandos e abusos de seus governantes. que a revolução francesa, outra vez, sirva de aviso.

Friday, May 24, 2013

teoria da árvore

hoje tive a percepção de que somos como árvores, enraizados em nosso contexto emocional e de vida em geral. assim como uma árvore tem um espaço físico determinado, por exemplo, um lugar no pantanal, nós também o temos; o nosso espaço é, apenas, mais complexo. o fato de caminharmos, aparentemente livre, pelo planeta conduz à crença de uma mobilidade que não existe. somos atados a nossa história, tempo, origem e família, sistema de crenças, corpo físico, experiências, aprendizados e tudo mais que compõem o nosso lugar individual num complexo entranhado, que se assemelha a uma imensa floresta tropical. temos que nos nutrir com aquilo que encontramos a nosso redor, gostemos ou não. as dificuldades precisam ser contornadas, pois assim como uma árvore não pode fugir do solo árido, não podemos virar as costas pras adversidade que a vida nos apresenta. o único objetivo, assim, é o crescimento, como é o de qualquer árvores ou planta, em direção à luz, sem se esquecer que os nutrientes, tão necessários ao crescimento, vêm do espaço particular que cada um de nós ocupa.

Friday, March 29, 2013

a dama de copacabana


as vezes me dou conta que moro num dos bairros mais intensos, de uma cidade fervorosa, de um país veemente - como só é o Brasil. então, deixo de me irritar por alguns minutos com toda desorganização que compõe esse caos reinante; percebo que, de certa forma, a alma de minha realidade é um pulso frenético e descontrolado, que dá vida às mais inimagináveis e imprevisíveis manifestações urbanas. e, neste singular momento, entendo, que, com todos os problemas que possamos ter, é um privilégio imenso viver em toda e qualquer cidade brasileira. trata-se de uma experiência única. imagino-me chegando certo dia no pós-morte, com um espírito qualquer me perguntando: você veio da onde? e eu respondo: do brasil! e o outro diz: caramba, que inveja, minha experiência de vida foi num povoado pacato nos alpes suíços.

Friday, February 08, 2013

A arte nas fotos de Massimo Vitali


Por qual razão o registro de uma praia de Massimo Vitali (veja imagem deste post) é considerado Arte, enquanto um registro de uma praia intocada não o é? O registro da praia intocada aborda uma ideia simples e já finalizada, assim como, na regra, toda foto de natureza. Tirando-se a beleza das formas, há, somente, sensações como paz e plenitude, mas não um aprofundamento emocional. Se houvesse, na mesma praia intocada, um objeto capaz de quebrar a harmonia óbvia da natureza, por exemplo, um homem pescando de terno rosa, as sensações transmitidas pela natureza seriam somente o início de uma mensagem, que se estenderia através do pescador de terno, levando, assim, à transformação do observador. É o que ocorre nas fotos de Massimo Vitali: o posicionamento dos frequentadores das praias traz sensações complexas.
                Ainda sobre o valor artístico das fotos de Massimo Vitali, a arte é um processo em constante evolução. Obras novas desenvolvem-se a partir de obras antigas, as ideias de ontem formam os conceitos de hoje. Retratar uma praia deserta não traz inovação alguma em relação as fotos de Edward Weston e Ansel Adams. As fotos de Massimo Vitali, por sua vez, partem dos registros clássicos do início do século XX, para apresentar uma nova postura, de um mundo explorado, ao contrário dos registros clássicos, que, na época, apresentavam um mundo a ser explorado.

Wednesday, January 09, 2013

qualquer um poderia ter feito isso


Recentemente, um amigo disse não entender certas obras das artes Moderna e Contemporânea. Ele referia-se a obras de fácil execução, como, por exemplo, um quadro branco com listras pretas. O argumento foi aquela velha história de que “qualquer um poderia ter feito aquela obra”. Para entender-se por que obras de fácil execução são, sim, obras de arte, é preciso conhecer uma linha de pensamento que iniciou-se no século XX e teve, como o mais ilustre representante, Duchamp. Um grupo de artistas chegou a conclusão que a técnica é inimiga do processo criativo, por interferir no fluxo do criador (o artista) para a obra. Diziam que a obra de arte precisa ser o mais independente possível, e, para isso, não deve trazer os traços pessoais do criador. Assim, começaram a desenhar com réguas e utilizar-se de diversas outras artimanhas que anulassem o aprendizado técnico do artista. O acaso, também, era considerado de grande valor na criação, e era preciso dar espaço para que o acaso pudesse se manifestar. Anos mais tarde, Jackson Pollock revolucionou este conceito, ao criar o action painting, no qual a pintura se libertou, de vez, do domínio da mão do artista.

Com outras palavras, na obra de arte de fácil execução, a ideia e a inspiração predominam. O importante, para o observador, não é pensar se ele, também, poderia ter feito aquela obra. É preciso deixar que aquela obra de fácil execução exerça o papel de transformar as emoções do observador. É interessante perceber que, como eu disse no meu post anterior, a arte se constrói de liberdade e de criatividade. Quando se diz “qualquer um poderia fazer essa obra de arte” está se induzindo a cópia, porque, na verdade, está-se propondo que alguém repita o processo de fácil execução feito pelo artista.

Para quem ainda não concorda com esse pensamento, proponho o exercício inverso. Na prática, qualquer um pode cursar as melhores academias de arte e aperfeiçoar-se nas técnicas mais complexas que existem. É algo como se tornar um engenheiro: a arte de difícil execução requer técnica apurada e nada mais. Ou seja, quando se valoriza um quadro de difícil execução, está-se, valorizando, na realidade, a técnica do artista, e não a emoção que o artista transpôs para aquela obra.