Sunday, May 27, 2012

luxo x conforto


                É fato que vivemos numa época de luxos. Sempre houve luxo, é claro, mas, antigamente, o luxo restringia-se a elite da elite financeira. Hoje, o luxo existe em escala industrial. Pode ser comprado em promoções de shopping centers, na forma de sedosos roupões de banho, de maçanetas douradas, de camas extravagantes e de muitos outros itens que transitam entre o conforto e o exagero. Pessoalmente, nada tenho contra o luxo, desde que ele me proporcione um significativo ganho de conforto. O que não me encanta é o luxo pelo luxo. Há pessoas que viajam para Dubai, somente para instalar-se numa das luxuosas suítes que os hotéis de lá oferecem. A cidade, em si, oferece pouco: em termos culturais, não é significante; as praias são monótonas; não se come melhor do que em São Paulo; as restrições comportamentais são muitas. Prefiro me instalar num hotel luxuoso em Bangkok e, além do conforto, conhecer os templos e outras preciosidades históricas.
                A questão central é: o luxo, por si só, nada acrescenta, é uma ilusão. Alguém senta-se num iate de cem milhões de dólares, impecável, mas... e dai? Pra onde vamos? Legal esse iate, mas qual o rumo da viagem, afinal, um iate existe para navegar. Para muitos, o destino perdeu significado: importam-se somente com o acabamento interno do iate, com as tevês de plasma, com o banheiro de mármore e com o mordomo servindo champanhe.
                O luxo é uma grande armadilha, pois ele seduz na promessa do bem estar, mas acaba eliminando vivências que, justamente, trazem o bem estar. Qual experiência é mais engrandecedora? Cruzar a savana africana de jipe ou hospedar-se num requintado hotel-safari com 20 mordomos, tapetes persas e com cercas elétricas que afastam os animais selvagens? É evidente que a viagem de jipe se torna mais agradável, quando o carro tem ar-condicionado, um excelente serviço e quando os pernoites são realizados em acampamentos requintados. O luxo não é condenável, mas ele não deve restringir a experiência.
                Eu costumo dizer que prefiro viajar na classe econômica, me hospedar numa pousada honesta e conhecer bem a cidade de meu destino, a viajar de primeira classe, hospedar-me no melhor hotel, mas ver pouco da cidade em si. Agora, se for possível viajar de primeira classe e conhecer bem a cidade, melhor ainda. O problema é que, na regra, isso não acontece. O luxo acaba por desnortear os sentidos, e, ao invés de conhecer cada canto de uma cidade, passa-se tempo na piscina do sofisticado hotel.
                Vale a pena pensar a respeito: qual o sentido do luxo na sua vida? Enquanto o luxo significar, somente, conforto na estrada, tudo está nos trilhos. Quando o luxo representa a vivência em si, há algo de errado acontecendo.

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