
Início de Janeiro, meu primeiro romance chegará às livrarias. Outros detalhes no site da Editora: http://www.colorfotos.com.br/louco-amazonia.htm
A fotografia em PB (preto e branco) nunca mais será a mesma. À primeira impressão, evoluiu. É impressionante o que os softwares de manipulação de imagem conseguem fazer na área do PB. O fotógrafo converte a imagem para tons de cinza, porém deixa a matriz colorida por baixo da imagem. Assim, ele consegue manipular cada tonalidade de cinza a partir da cor original. Ou seja: uma árvore verde com uma ave vermelha e o céu azul tem nove combinações básicas possíveis: árvore preta, ave cinza, céu branco – árvore preta, ave branca, céu cinza – árvore branca, ave preta, céu cinza ... e assim por diante. O Photoshop CS4 dá a possibilidade de manipular seis cores em separado: magenta, azul, cyan, verde, amarelo e vermelho. Temos, por tanto, 729 opções básicas de combinações PB, mais uma infinidade de opções de meio-termo. Antes, o fotógrafo tinha a opção de usar um único filtro de cor na captação da imagem, somado a mais alguns recursos na revelação e ampliação. Hoje, é como se o fotógrafo pudesse usar 6 filtros de cor ao mesmo tempo. Sem contar que é possível aplicar esses filtros em separado sobre diversas áreas de uma mesma imagem. E, finalmente, pode-se aplicar qualquer granulação na imagem, quando, antigamente, era uma escolha que precisava ser feita antes de tirar a foto, na hora de escolher o filme. Tudo junto é um ato de covardia, comparado à fotografia tradicional.
O resultado imediato será uma enxurrada de imagens em PB deslumbrantes. Amadores poderão fazer imagens que parecerão fotos da época em que Sebastião Salgado ainda usava filme (sim, o Sebastião Salgado percebeu essa facilidade e mudou para o digital – com toda razão, ou não?). A longo prazo, porém, a situação se complicará. Hoje, o nosso olha está acostumado a admirar imagens em PB que primam pela composição dos cinzas, pois, tradicionalmente, um dos grandes méritos ali está. Quando o nosso olho for bombardeado com milhares de fotografias em PB, todos os dias, que primem pela composição dos cinzas, o olhar crítico começará a dar maior importância a imagem em si. Será uma revolução na fotografia: a facilidade técnica exigirá, a longo prazo, imagens de grande conteúdo. E curiosamente essa revolução nada mais significa que um retorno às origens. O fascínio pela composição de cinzas na imagem é algo recente. Na origem da fotografia, quando o olhar ainda não estava preparado para reconhecer os tons de cinza, tudo o que valia era o conteúdo.
É curioso: evoluímos para chegar à partida. E tal constatação se aplica a toda arte contemporânea, que artistas e os críticos de arte me perdoem. A arte contemporânea nada mais é que um caminho de retorno. É um momento de entender que o conteúdo é infinitamente maior que a obra e os materiais empregados. Refiro-me a mensagem de verdade, a essência da arte, não às falácias de ultimamente. Refiro-me as inspirações verdadeiras, não ao desejo freudiano de reconhecimento. Refiro-me a genialidade, que parece ter se perdido em algum lugar do passado, talvez nos modernos, talvez até antes, talvez de forma progressiva desde Vinci.
Hoje vou fugir um pouco da fotografia, mas no final retorno. Viajo a meus 20 e poucos anos, quando li um dos livros mais antigos da humanidade, o I CHING. Uma frase em especial fixou-se na minha memória: “A verdade traz nenhum arrependimento.” Sempre achei a frase divina, mas nunca a compreendi. O tempo correu e a frase correu junto, retornando esporadicamente à memória. Passaram-se dez anos e finalmente decifrei o óbvio: aquele que é verdadeiro, não se arrepende. Ser verdadeiro, no mundo de hoje, nem sempre é tarefa fácil, pois as máscaras sociais nos afastam da verdade. Muitas vezes acreditamos ser verdadeiros, mas não somos. Dois exemplos rápidos. Exemplo 1) Um casal vai à praia, onde combinaram encontrar-se com outro casal. A mulher esquece o protetor solar, mas só se dá conta do descuido quando já estão no meio do caminho. Ela pede ao marido para retornar à casa, mas ele argumenta que não, pois chegariam atrasados ao encontro. Após uma breve discussão ela aceita ir a praia sem o protetor solar, pois não “pega bem” (= máscara social) deixar o outro casal esperando. Conclusão: no final do dia a mulher esta toda vermelha, a pele ardendo. Além da dor, ela fica se queixando a Deus e o mundo, que não deveria ter aceito os argumentos do marido, "o casal de amigos que esperasse, afinal, a saúde vem em primeiro lugar". Exemplo 2) Um homem metido a machão vai à praia em um dia ensolarado também acompanhado da mulher. Ela tenta convencê-lo a passar protetor solar, mas ele se recusa, acreditando isso ser frescura. À noite, ele está todo ardendo, a pele vermelha, devido a falta de protetor solar. Mas não se arrepende. Da mesma forma que, segunda a verdade dele, usar protetor solar é “coisa de fresco”, ele acredita que homem de verdade agüenta as queimaduras do sol. E a falta de arrependimento traz ausência de raiva, com outras palavras, o homem está feliz, mesmo queimado.
Retorno à fotografia. Você que é um fotógrafo apaixonado, siga sempre a sua verdade. Não se desvie do seu trabalho por razão alguma nesse mundo. Assim, independente onde você chegar na profissão (ou no caminho de amador), você estará realizado. No ato criativo a verdade é única semente saudável. Na fotografia em particular, a sua verdade é a única luz que deve passar por sua lente.