Tuesday, November 27, 2007

Os mestres Avedon e Rembrandt


Richard Avedon foi mais que um fotógrafo – ele foi o mestre da luz. Nenhum outro fotógrafo dominou a luz como ele. Muitos chegaram perto, com Helmut Newton e Robert Cappa, mas Avedon tinha um conhecimento a mais. Ele utilizava-se da luz para pintar a imagem, assim como Rembrandt usava o pincel para pinta a luz. Faço propositalmente esta comparação, pois Rembrandt tinha o mesmo olhar de Avedon. Basta analisar a pintura de uma e as fotos de outro. Há uma transcendência, jogo de sombras e volumes que nós não conseguimos captar no dia-a-dia, mas que estes dois homens não só sabiam enxergar como reproduzir e apresentar ao nosso olhar comum. A fotografia contemporânea pouco se importa com a luz. Os artistas (fotógrafos) de hoje preferem perpetuar idéias e conceitos a se aventurar pelos mistérios das sombras. O resultado muitas vezes é a mediocridade. O grande poeta Ferreira Gullar é um dos mais críticos em relação a arte das idéias. Todos nós temos milhares de idéias e conceitos todos os dias – faz parte da natureza humana. Arte não é dizer: “hei, eu tive uma idéia” , mas transformar esta idéia, muitas vezes comum a diversas pessoas, em algo grandioso. E esta arte parece ter morrido com Avedon. Temos ainda alguns poucos remanescentes da velha filosofia, como Miguel Rio Branco e Sebastião Salgado, que primam pela qualidade técnica, mas são uma cada vez mais rara exceção. Sou visto como um louco e antiquado por muitos de meus colegas de profissão, que usam máquinas digitais, foco automático, e até mesmo controle automático de diafragma e velocidade. Então me pergunto: será que Avedon teria trocado a sua preciosa luz por uma medição de chip de computador embutido em uma máquina digital ? Será que Rembrandt teria substituído pincel e tela por um notebook e um plotter ? É evidente que não. Nós fotógrafos, dificilmente algum dia chegaremos a excelência de Avedon e Rembrandt. Mas temos a obrigação de tentar.

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