Em que você realmente acredita? Digo, lá na honestidade
profunda, onde os olhares estranhos não alcançam. Pense na sua alma como um
livro secreto que só pode ser decifrado com uma lanterna a pilha debaixo do
cobertor. O que estará escrito nesse livro? Teria alguma relação com aquilo que
você tenta, desesperadamente, mostrar de si ao mundo? Você desconfia ser uma
fraude: o mundo não gosta de verdades. O mundo é um grande teatro e vive de
atores que desempenham, com perfeição, seus respectivos papéis. Ser verdadeiro
é pôr o equilíbrio em risco. Em que você realmente acredita? Às vezes, é
fundamental se fazer essa pergunta. Não para contar ao mundo; mas para experimentar
a grandeza do universo.
Friday, June 30, 2017
Tuesday, June 27, 2017
quando vejo meu amor passar
Quero dizer verdades. Sugá-las de cada labirinto de
minha alma e despejá-las sobre a humanidade. Deixar minha voz ecoar por ruas e
por esquinas e deixar o mundo saber de seus equívocos e de suas belezas. Pintar
algumas paredes de cinza e outras de azul. Explicar que o nascer da lua é
gratuito e que é de beleza igual, visto do hotel de luxo ou do casebre no
morro. A humanidade embrulha as belezas em clichês. Pensa que tomar champanhe numa
beira de piscina é viver mais intensamente que beber água de riacho na
floresta. Quero convidar a humanidade a sorrir; a deixar os olhos brilharem; a
sussurrar sonhos; a respirar esperanças; a sentir o mundo girar na ponta do coração.
Quando vejo meu amor passar, quero dizer verdades.
Wednesday, June 21, 2017
a menina e a montanha
Alguns rapazes, sempre implicantes, inventaram para a
menina que havia um mestre no topo da montanha, com respostas para todas as
dúvidas do universo. Ela, mergulhada em questões existenciais, subiu a trilha
ardilosa até o cume do monte. Chegando lá, percebeu que fora enganada e que não
havia mestre algum. Chateada, sentou-se sobre uma pedra e espiou os horizontes
distantes. Permaneceu lá por longas horas, e o olhar amadureceu. Como se, de
repente, compreendesse cada uma das palavras que lhe roubavam o sono de
madrugada. Quando retornou, os rapazes perguntaram, em tom de ironia, como fora
o encontro com o mestre. Ela sorriu e respondeu que eles estavam enganados, não
havia mestre algum no alto do monte. Os rapazes ameaçaram rir, quando a menina
completou “na verdade é uma mestra, uma mulher; e ela me mostrou que vocês e eu,
apesar das implicâncias, um dia seremos as melhores memórias uns dos outros.”
Os rapazes, atônitos, disfarçaram a incompreensão e dispersaram. No dia
seguinte, subiram até o alto da montanha, na esperança de encontrar a mulher
sábia, mas apenas se depararam com uma pedra vazia.
Friday, June 16, 2017
medo de dizer bom-dia
Eu sempre tive muitos medos. Ainda tenho. Há quem afirme
que são inseguranças, mas eu gosto de dizer que são medos. Inseguranças me
parecem descrições de livros de ciência; medos são a vivência do dia a dia. As
vezes, tenho medo de ter os medos errados. Tipo, ter medo da lua, quando, na
verdade, eu deveria ter medo da escuridão. Correndo contra o tempo, tenho medo
de que meu tempo já se tenha passado há muito tempo. Como a nuvem que vem para
trazer uma sombra inútil à noite. E quando minha alma gêmea passa por mim,
tenho medo de dizer bom-dia.
Thursday, June 15, 2017
a flor no deserto
Lá vou eu levar minhas pilhas coletadas para jogar fora, como sempre, no ponto de coleta do supermercado da esquina. Chego lá para descobrir que o estabelecimento não recolhe mais as pilhas.
Na mídia brasileira corre a indignação com o fato de que Trump deixou o acordo climático de Paris. Olho ao redor e penso que o acordo climático é o de menos perto do descaso generalizado com o meio ambiente no Brasil.
Nossos rios urbanos são valas de esgoto ao céu aberto. As baías perto de cidades são bacias de poluição. As pilhas e lâmpadas não tem descarte adequado. Nas praias, o lixo fica na areia. Nos mercados, as sacolas de plástico se multiplicam e multiplicam. A reciclagem é iniciativa de poucos. Tenho amigos, formados e estudados, que até hoje não separam o lixo reciclável, sob a desculpa de que "no meu prédio não tem coleta seletiva". Eu penso que reciclagem não é conforto, é consciência e dá trabalho.
Enquanto penso sobre tudo isso, três tiros são disparados na subida de uma favela perto de casa. Algumas pessoas se jogam no chão, assustadas, outras seguem como se tiro fosse parte inevitável da rotina. Eu, confesso, fiquei no grupo dos que se acostumaram, apenas apressei os passos, carregando minha sacola de pilhas ainda sem destino.
Pode haver conscientização ecológica enquanto não há paz? Seria a crônica agressão ao meio ambiente apenas outra face de nossa natureza violenta?
Lembro do desastre da Samarco e percebo minúscula minha iniciativa de preservar a natureza, ao descartar as pilhas de forma adequada. De noite, quando olho para o céu, percebo o quão minúsculo somos todos nós. Então, se for para comparar minhas ações com escalas de grandeza, é melhor sentar de baixo de uma árvore e esperar a vida passar. Do ponto de vista universal, tudo que se faz, por maior que seja na concepção humana, é um pingo no infinito.
Vou procurar por outro lugar para descartar as pilhas. Que a humanidade não desista perante as dificuldades de tentar fazer o que simplesmente é certo. O milagre está nos detalhes: na singela flor que sobrevive no deserto.
Encoraja pensar que, quanto maior for o deserto, maior é o milagre da flor solitária.
Monday, June 05, 2017
velejar pelas verdades do mundo
Corro na beira do mar e sinto o universo grunhindo sob os
meus pés. A terna espuma branca me guia pela noite. Alguns casais namoram longe
dos postes da calçada, e sentem-se invadidos quando passo por eles. Finjo
ignorá-los, para que possam se eternizar nos braços um do outro. A cidade
ilude, a maresia alerta. Sigo correndo. Percebo uma luz na escuridão do mar e imagino
um navegante perdido no horizonte negro. Paro e respiro. Sinto o coração se
acelerar no céu da boca. De um lado, as milhares de luzes da cidade, do outro,
a luz do navegante solitário. Quem corre risco de se perder? Nós na cidade ou ele
em alto-mar? Penso que já me perdi há muito tempo e que preciso ter meu próprio
barco, para me encontrar. Velejar pelas verdades do mundo, longe dos holofotes da
vaidade.
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