20hs. do outro lado da rua, um hotel. na altura dos meus
olhos, oitavo andar, um quarto se acende, e adentra um homem de terno azul
escuro. ele deita o paletó com zelo sobre a primeira das duas camas gigantes.
perde-se por alguns segundos num detalhe qualquer do quarto, caminha à janela. cerra
os olhos, respira, afrouxa a gravata. está exausto. retorna de um longo dia de
reuniões que, de repente, perdem sentido. os olhos buscam a rua e encontram a
vida do bar da esquina. o pensamento ameaça voltar a assuntos de trabalho, o
homem se recusa, desabotoa a camisa e massageia a própria nuca. ele fecha a
persiana, mas eu sei o que ele faz longe de meu olhar. ele retorna para o meio
do quarto, liga a televisão, senta-se sobre a cama próxima à janela, tira os
sapatos, escorrega o corpo até a cabeceira, ajeita uma almofada, encosta-se na
parede, agarra o controle remoto e pula de canal em canal até se perder no
absoluto nada.
eu sinto inveja daquele homem. queria estar nesse vazio que
segue a exaustão, cansado ao ponto de que nada mais tem relevância. meu cansaço
não sabe me esgotar por completo. no bar da esquina, pede-se outra rodada de
chope.
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