em meio ao alvoroço em torno da extinção do MinC, surge a
importante pergunta sobre qual foi o rumo da cultura, no Brasil, na última
década. afinal, o MinC foi tão perfeito assim? vejo dois extremos na dinâmica
cultural brasileira: de um lado, os projetos e os eventos executados a
partir de leis de incentivo fiscal; do outro, a decadência do patrimônio
cultural, como o Museu Nacional da Quinta da Boa Vista e a Escola de Artes do
Parque Lage. mesmo pertencendo o Parque Lage à administração estadual, não seria
mais importante destinar verba pública federal à manutenção do espaço, ao invés
de direcioná-la, através de leis de incentivo fiscal, a shows de cantores
consagrados?
não existe, no Brasil, um projeto cultural; a manutenção
do patrimônio histórico é esporádica. em todo Brasil, há construções coloniais
caindo aos pedaços, e uma igreja precisa de sorte e de muitos pedidos de “por
favor” para ser reformada. não se percebe uma agenda cultural. o MinC se tornou
um grande carimbador de projetos de captação.
há cerca de dois anos, uma renomeada artista brasileira
teve grande exposição cancelada no MAM. o motivo: embora ela constasse na
agenda oficial das exposições, ela não conseguiu captar um patrocinador para a
exposição. que política cultural é essa em que o espaço público obriga o
artista a conseguir o patrocinador que, por sua vez, patrocinará a exposição
com verba pública? não seria mais interessante o Governo recolher os impostos e
direcioná-los ao Museu, para que o Museu tivesse total independência para
montar exposições?
no Brasil, o repasse de verbas para importantes espaços
culturais é abaixo do necessário. os museus federais, na maioria, sequer têm
verba para a manutenção do prédio e do acervo permanente. assim, curadores, artistas
e produtores culturais se estapeiam pelas verbas do incentivo fiscal, para a realização de exposições e de eventos. a disputa é grande, e quem vive das
artes tem uma difícil rotina financeira. quando defendem o MinC, não o defendem
por admiração. o defendem, pois temem que, sem o MinC, o cenário já difícil
possa se tornar insustentável.
a discussão apropriada, no momento, não seria
em torno da manutenção do MinC, mas em torno da reavaliação de toda a política
cultural brasileira. é inconcebível que a Escola de Artes do Parque Lage e o
Museu Nacional sofram com falta de verba, enquanto medalhões da música
brasileira recebem verba pública para realização de shows. é imoral que igrejas
coloniais caiam aos pedaços, enquanto livros e mais livros de importância
cultural questionável são financiados através de leis de incentivo fiscal.
por falar em livros, a Biblioteca Nacional é outra que vive a rotina da falta
de verba. de que adianta um país fomentar novos livros, se esse mesmo país não
disponibiliza verba para preservá-los na história? a gestão da cultura
brasileira é um grande contrassenso.
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