a tradição de presentear o aniversariante originou-se nos
ritos religiosos: da mesma maneira que se acendia velas nos templos e se fazia
oferendas aos deuses, presentear o aniversariante (e acender velas no dia do
aniversário) era um gesto de desejar boa sorte e pedir proteção para o ano que
se iniciava. aos poucos, a tradição religiosa transformou-se num ato de carinho
com o aniversariante. finalmente, virou obrigação – ir num aniversário sem
presente é falta de educação. essa obrigação transformou o antigo rito num
festival capitalista. hoje, quando vamos num aniversário de criança, é preciso
passar antes numa loja de brinquedos. o resultado é, na regra, um monte de
presentes de plástico que são deixados de lado pela criança aniversariante após
poucos dias.
algumas mães, cientes desse consumo que perdeu o sentido e ecologicamente incorreto, resolveram
mudar o rito: pedem que os convidados façam doações a uma instituição que cuida
de crianças carentes. a iniciativa é em si muito nobre, mas distorce tanto a
origem do presente como o gesto carinhoso que o presente representa. pelo ponto
de vista da origem, deixamos de desejar sorte ao aniversariante; pelo ponto de
vista do carinho, ficamos impedidos de dar algo pessoal para o filho dum amigo
numa data especial.
sou 100% a favor de filantropia e penso que, num país desigual
como o Brasil, temos todos o dever moral de contribuir de alguma forma (seja
com dinheiro, com ajuda braçal, com doação de roupas ou até mesmo com
aconselhamentos) para ajudar pessoas carentes ou ignorantes, mas penso também que
é preciso tomar cuidado, para não distorcer o sentido dos gestos. quem quer
fazer filantropia, faz por livre vontade, não porque os pais dum aniversariante
pediram. e quem quer dar um presente para o filho dum amigo, tem o direito de
dar o presente.
No comments:
Post a Comment