queria
poder fotografar as palavras. registrar o instante preciso que uma palavra
representa em determinado momento. palavras são camaleões emocionais, nunca,
jamais, repetem o mesmo significado. o frio de hoje é diverso do frio de ontem.
o amor de João é diferente do amor de Maria. gostaria de fotografar as palavras
para poder congelar exatamente o que se quis dizer em certo instante. depois que ditas, ninguém sabe repetir o que significam.
Sunday, July 27, 2014
Sunday, July 20, 2014
conflito Israel x Palestina
o assunto mais ingrato para se comentar é o conflito
Palestina x Israel. quão maior o esforço de abordar a questão de forma neutra, maior
a certeza de que aquele conflito é um espelho de milhares de conflitos em todo mundo.
aqui no Rio de Janeiro, por exemplo, vivemos situação bem parecida; milhares de pobres residem
praticamente trancafiados nas favelas e têm como principal apoio organizações
humanitárias e organizações criminosas locais. aqui não existe uma fronteira
física separando os dois lados, mas a fronteira invisível existe, e o lado de
cá não aprecia quando o lado de lá se aventura pelos shoppings e cinemas da área
nobre. a invasão militar, como resposta a crimes, também é um método que nós
usamos. quando um bandido de uma favela assassina uma mocinha da área nobre, o
Bope invade aquela favela e a ação também traz como efeito colateral a morte de
alguns civis. nossa sociedade, assim como Israel faz em relação à Palestina,
acostumou-se a tolerar a morte de civis nas favelas, quando o pretexto é manter
a ordem e reprimir criminosos que lá se escondem. por isso, não me sinto em
posição de opinar no conflito Israel x Palestina. creio ser preciso, antes de opinar
em conflitos alheios, arrumar a própria casa. desafio qualquer um a comparar o
número de civis mortos pela polícia brasileira ao de civis palestinos mortos
pelo exército de Israel. a nossa guerra causa mais mortes.
Saturday, July 19, 2014
a estranha moda das doações em festas infantis
a tradição de presentear o aniversariante originou-se nos
ritos religiosos: da mesma maneira que se acendia velas nos templos e se fazia
oferendas aos deuses, presentear o aniversariante (e acender velas no dia do
aniversário) era um gesto de desejar boa sorte e pedir proteção para o ano que
se iniciava. aos poucos, a tradição religiosa transformou-se num ato de carinho
com o aniversariante. finalmente, virou obrigação – ir num aniversário sem
presente é falta de educação. essa obrigação transformou o antigo rito num
festival capitalista. hoje, quando vamos num aniversário de criança, é preciso
passar antes numa loja de brinquedos. o resultado é, na regra, um monte de
presentes de plástico que são deixados de lado pela criança aniversariante após
poucos dias.
algumas mães, cientes desse consumo que perdeu o sentido e ecologicamente incorreto, resolveram
mudar o rito: pedem que os convidados façam doações a uma instituição que cuida
de crianças carentes. a iniciativa é em si muito nobre, mas distorce tanto a
origem do presente como o gesto carinhoso que o presente representa. pelo ponto
de vista da origem, deixamos de desejar sorte ao aniversariante; pelo ponto de
vista do carinho, ficamos impedidos de dar algo pessoal para o filho dum amigo
numa data especial.
sou 100% a favor de filantropia e penso que, num país desigual
como o Brasil, temos todos o dever moral de contribuir de alguma forma (seja
com dinheiro, com ajuda braçal, com doação de roupas ou até mesmo com
aconselhamentos) para ajudar pessoas carentes ou ignorantes, mas penso também que
é preciso tomar cuidado, para não distorcer o sentido dos gestos. quem quer
fazer filantropia, faz por livre vontade, não porque os pais dum aniversariante
pediram. e quem quer dar um presente para o filho dum amigo, tem o direito de
dar o presente.
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