O vento arenoso arranhava a
espinha. Maresia trazia o sabor da liberdade. A gravata já não sufocava
esquecida ninguém sabe onde. O terno cinza, a camiseta branca, meias e sapatos,
até mesmo a cueca, jaziam nas areias de Copacabana. Alguns curiosos estranhavam
de longe o jovem empresário despido; associaram a nudez a algum distúrbio
mental, loucos é que não faltavam no bairro. Uma senhora, indignada, pediu ao
policial que tomasse providências, mas esse espiou o ponteiro do relógio
indicando o fim do plantão e desconversou. O importado conversível, largado
pelo empresário na beira da calçada, deslumbrava o segurança do pedaço: era o
resumo de milhares de sonhos. Uma criança desentendida apontou para homem nu à
beira-mar, a mãe fez-se de boba e partiu. A criança sentia e não entendia,
enquanto a mãe entendia sem querer sentir.
O
jovem empresário estava livre disso tudo, desse mundo estranho. Há poucos
minutos era a maior fortuna da cidade, mas, agora, decidido, não tinha mais
pertences e por isso mesmo percebeu-se rico como nunca antes. Queria virar
golfinho, queria não, o seria. Saturado duma vida ausente de sentidos,
jogar-se-ia nas águas de Copacabana para ser golfinho. Loucura? Não. Louco é o
prisioneiro de si mesmo. E foi ser feliz, e foi ser golfinho.
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