É fato que vivemos numa época de luxos. Sempre houve
luxo, é claro, mas, antigamente, o luxo restringia-se a elite da elite financeira.
Hoje, o luxo existe em escala industrial. Pode ser comprado em promoções de
shopping centers, na forma de sedosos roupões de banho, de maçanetas douradas, de
camas extravagantes e de muitos outros itens que transitam entre o conforto e o
exagero. Pessoalmente, nada tenho contra o luxo, desde que ele me proporcione
um significativo ganho de conforto. O que não me encanta é o luxo pelo luxo. Há
pessoas que viajam para Dubai, somente para instalar-se numa das luxuosas suítes
que os hotéis de lá oferecem. A cidade, em si, oferece pouco: em termos
culturais, não é significante; as praias são monótonas; não se come melhor do
que em São Paulo; as restrições comportamentais são muitas. Prefiro me instalar
num hotel luxuoso em Bangkok e, além do conforto, conhecer os templos e outras preciosidades históricas.
A questão central é: o luxo, por si só, nada acrescenta,
é uma ilusão. Alguém senta-se num iate de cem milhões de dólares, impecável,
mas... e dai? Pra onde vamos? Legal esse iate, mas qual o rumo da viagem, afinal,
um iate existe para navegar. Para muitos, o destino perdeu significado:
importam-se somente com o acabamento interno do iate, com as tevês de plasma, com
o banheiro de mármore e com o mordomo servindo champanhe.
O luxo é uma grande armadilha, pois ele seduz na
promessa do bem estar, mas acaba eliminando vivências que, justamente, trazem o
bem estar. Qual experiência é mais engrandecedora? Cruzar a savana africana de jipe
ou hospedar-se num requintado hotel-safari com 20 mordomos, tapetes persas e com cercas elétricas que afastam os animais selvagens? É evidente que a viagem de
jipe se torna mais agradável, quando o carro tem ar-condicionado, um excelente
serviço e quando os pernoites são realizados em acampamentos requintados. O
luxo não é condenável, mas ele não deve restringir a experiência.
Eu costumo dizer que prefiro viajar na classe
econômica, me hospedar numa pousada honesta e conhecer bem a cidade de meu
destino, a viajar de primeira classe, hospedar-me no melhor hotel, mas ver
pouco da cidade em si. Agora, se for possível viajar de primeira classe e
conhecer bem a cidade, melhor ainda. O problema é que, na regra, isso não
acontece. O luxo acaba por desnortear os sentidos, e, ao invés de conhecer cada canto de uma cidade,
passa-se tempo na piscina do sofisticado hotel.
Vale a pena pensar a respeito: qual o sentido do
luxo na sua vida? Enquanto o luxo significar, somente, conforto na estrada,
tudo está nos trilhos. Quando o luxo representa a vivência em si, há algo de
errado acontecendo.
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