No limite da cidade havia um parquinho para as crianças. Era
um cercadinho verde-enferrujado, que ocupava o centro de um terreno baldio de
terra batida. Dentro do cercadinho, o escorrega, o balanço e o trepa-trepa. Um
grupo de crianças se alternava nos brinquedos, enquanto os adultos responsáveis
se ocupavam com smartphones. Tempo nublado. Uma das crianças andou às grades do
cercadinho para observar uma poça de água que se formara durante a última chuva,
no terreno baldio. A poça parecia tão mais divertida que o parquinho. Percebeu
a porta do cercadinho destrancada e os adultos distraídos. Escapuliu. Tirou os
sapatos e pisou no iniciozinho da poça. Sentiu a lama se espremer por entre os
dedos dos pés. Riu alto. Curiosas, uma por uma as demais crianças fugiram do
cercadinho e foram se lambuzar na poça d’água, sem que os adultos notassem.
Brincaram por divertidos minutos até que retornaram despercebidos. Mais tarde,
ao chegar em suas respectivas casas, os adultos notaram, com estranhamento, que
os pés das crianças estavam sujos de lama. Não notaram, porém, que as crianças
sorriam como nunca antes. Não perceberam o brilho da aventura nos olhos dos
pequeninos. Deixaram de ver a magia, apenas a lama nos pés. Um dos adultos
pensou que o parquinho deveria ser reformado com urgência, talvez precisasse de
grama sintética. Outro decidiu comprar sapatos melhores, para manter os pés de
seu filho limpos. Outro ainda pensou em perguntar ao filho como foi que sujara
os pés, mas havia cinco novas notificações no smartphone, e esqueceu o assunto.