Na penumbra da janela, uma moça chora. Desfocados, os olhos
molhados buscam algum conforto na rua e só encontram espaços cinzentos. Ela
está só, e a solidão causa uma crescente angústia vazia. Mas o que realmente
incomoda a moça não é a solidão em si; o que entristece é que ela não consegue
pensar em ninguém com quem ela gostaria de dividir aquele vazio. É como se toda
alma do mundo vibrasse numa frequência diferente. Por mais doloroso que seja o
vazio no peito, a moça o considera demais precioso para dividi-lo com qualquer
um. E assim o vazio só aumenta. É um ciclo sem fim aparente: quanto mais o vazio
cresce, mais precioso se torna. A boa notícia é que chegará o dia em que o
vazio se tornará tão precioso que deixará de ser um vazio, para ser um forte
abraço quente no corpo e na alma. E, nesse dia, flores vão brotar nos canteiros
das esquinas. A solidão será uma lembrança terna, dum tempo em que a moça não
compreendia a própria essência. E haverá espaços para novos mundos, novas
conquistas e novos amores.
Tuesday, November 29, 2016
Friday, November 18, 2016
você sabe a verdade
Você sabe a verdade, mas chama o mundo de injusto. Você diz
que a causa das suas angústias é um mistério que devora suas forças. As vezes
você chora algumas lágrimas azedas. Quando a chuva escorre pelo vidro da janela
tarde à noite, você se entrega ao vazio imenso que persegue a sua alma. Então,
de repente, por um breve instante, você encontra a verdade. Ela é cristalina e
absoluta, sem margem para qualquer dúvida: a verdade é um grande desafio. Você
sabe que precisa escalar a montanha e você sabe que, depois de trilhar esse
caminho, nada será como antes. Um calafrio corre todo seu corpo e você se
assusta. A verdade quer lhe escapar, e você permite. Você apaga as luzes,
deita-se na cama e dorme uma noite mal dormida. Na manhã seguinte, você finge
que nada aconteceu. Você retorna para a sua rotina vazia e se convence de que
há graça na monotonia. Mas, lá no fundo, você sabe a verdade e sempre soube: a
montanha está a sua espera; o universo lhe reserva uma caminhada inesquecível.
Tuesday, November 01, 2016
cavalinhos imaginários
Você deseja ser considerado, mas ninguém se importa. O mundo
gira rápido de mais para compreender seus pensamentos longos. Você se percebe
só e sem amparo. Veja bem: o motivo da sua angústia é que a humanidade gira num
imenso carrossel. Tenha determinação, solte do cavalinho e observe o carrossel
de fora. Você verá pessoas rindo, outras chorando, todas completamente
anestesiadas pelo girar da roda. Então você entenderá por que ninguém se importa;
as pessoas estão apenas preocupadas em não cair dos cavalinhos imaginários.
Subscribe to:
Posts (Atom)