após o vídeo hilário de Narcisa Tamborindeguy na ARTRIO,
confesso que já tive um momento Narcisa. foi no início da década passada. eu passeava
pelo Shopping Cassino Atlântico, quando me deparei com um vernissage na hoje
extinta Galeria 21, dos queridos Afonso Costa e Valéria Braga. receberam-me com
uma taça de champanhe, e quando dei por mim estava de pileque e admirava obras
de arte que eu não fazia ideia de quem eram. a certa hora, deparei-me com uma
gravura que imediatamente reconheci ser de Oswaldo Goeldi. perguntei à Valéria
Braga pelo preço da gravura. ela, para minha surpresa, puxou um homem na casa
dos quarenta pelo braço e disse: “pergunte ao artista.” fiquei perplexo; pelo
que eu sabia Goeldi estava morto fazia algumas décadas, mas, pego de surpresa e
com champanhe na cabeça, resolvi tirar a história a limpo, virei-me para o
artista e perguntei: “você é o Goeldi?” a resposta foi um fulminante olhar de
desprezo. sem nada dizer, o artista deu me as costas e abandonou-me com minha
dúvida ignorante. mais tarde descobri que se tratava de uma intervenção no
trabalho de Goeldi e que o artista que me fora apresentado era o interventor,
Nuno Ramos.
o que Narcisa e eu temos em comum nesses dois momentos é
que quebramos a rígida norma de como se comportar no meio das artes. cometemos
o pecado capital de fazer perguntas tolas num meio que se proclama aristocrático.
o curioso é que a arte, como expressão da liberdade, tem como principal
objetivo, justamente, a quebra de hierarquias engessadas. muitos se perguntam
de que maneira a arte poderá evoluir daqui para frente, uma vez que todas as
barreiras criativas já foram superadas. talvez o caminho seja a queda da torre
de valetes, e o futuro da arte esteja na simples reconstrução horizontal. talvez
também não. mas certo é que episódios como o protagonizado por Narcisa devem nos
levar à reflexão; afinal, pode um ambiente com rígidos protocolos promover a livre
expressão?