Aconteceu numa daquelas feirinhas do interior do Brasil, com barraquinha
de beijo, de pipoca, maçã do amor, tiro ao alvo, chão de terra batida, adultos
falastrões, crianças espoletas, música e carrossel. Luzes coloridas preenchiam o
azulado chumbo do anoitecer. Um jovem casal se encontrou em frente ao carrinho
de algodão-doce. Cumprimentaram-se com dois beijos tímidos no rosto e
caminharam lado a lado pela feirinha. Era o primeiro encontro e ferviam por dentro
de insegurança. Lá pelas tantas ela disse que nunca andara de carrossel. Juntaram
as moedas que traziam nos bolsos e compraram duas entradas. Sentaram-se numa
pequena carruagem em forma de abóbora, cercados por crianças em cavalinhos,
renas e unicórnios. Assim que o carrossel iniciou os giros, as luzes se
tornaram rabiscos coloridos, a música diminuiu o ritmo, e o casal viajou a um
universo à parte. As pontas de seus dedos se tocaram, beijaram-se. Quando, dois
minutos adiante, o carrossel parou, as crianças nos cavalinhos se queixaram,
decepcionadas, de que o passeio fora rápido demais. O jovem casal se afastou,
agora de mãos dadas, sem norte definido. Para eles o carrossel continuava a
girar na eternidade do primeiro amor.